quinta-feira, 10 de junho de 2010

Então me liga
numa tomada 220
e desliga da visão desfocada
que permite
ver

veja que ver é pouco ver
e ler e pouco
ver é ler, mas que sem óculos com uma carabina apontada
engatilhada para a orelha esquerda
mas de tal forma
que o tiro atravesse
e antes de entrar já tenha saído quente
resfolegante
carregando
na ponta da bala descarregada
um pouco de miolo,
umas idéias e muita cera de ouvido

ouvi esse boato de um estupro consentido
que todo mundo viu e riu
que ninguém quis ver mas quis
que viram de viraram
que desfizeram as malas
que voltaram da viajem depois da morte consumada


destruído o corpo-seco
lambido o pão
o dedo sujo
o vômito pelo caminho
e a menina que arrastada fora-rosa
a menina rosa
que descia lânguida a rua sôfrega
que descia e foi submetida
como nossa senhora
uma virgem
foi tanto
e detida pelo andaime
caiu ralou escorregou
por firmes braços rudes
e só
somente
com o consentimento haverá tal fato
ato-podre-corpo-sujo
moralmente
insensílvelmente
mente somente para mim
que cobro corpo são
tão são tão limpo
que seja impossível
que seja um sonho doce
que esteja a várias léguas
metros e sem ti
metros
é só o que me gasta
só me gasta
o calar
o estupro
e sorrir como quem vive entre as flores e entre as angustiantes farturas
sorrir macambúzio feito um animal podre
tornar vida
tanta e tanta morte em forma de cores
em tons azuláceos e rosas
flores
pobres senhoras descem a ladeira
doces meninas quem as vê?
espreitam olhos valentes e covardes
doces e salgados
as tais mãos rudes do patrão
o semblante sem figura
a falta de sensação
o coração afogueado
de emoção infantil
dos banquete da escola
como feras espreitam e são espreitados
os pobres estupradores consentidos.

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